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  • Foto do escritorAninha

Que boneca é essa?

Atualizado: 13 de out. de 2020




Hoje esta frase não sai da minha cabeça, depois que mamãe me colocou para dormir ontem contanto uma história novinha em folha. Ela veio de um livro muito especial, um dos preferidos de minha mãe. Ele conta histórias de personagens que existem de verdade, histórias da arte popular brasileira.


Naquela noite nos aconchegamos em minha cama, ligamos o abajur, nos enrolamos no cobertor e ali, bem juntinhas, ouvi atentamente a voz doce de minha mãe, enquanto ela contava assim:


“Entre tesouras, agulhas e linhas, palitos de madeira, tecidos, enchimentos de algodão acrílico, bijuterias e botões, Dona Marilac, Maiara e Débora sentam no quintal de casa para costurarem e bordarem personagens de seu cotidiano e da cultura popular brasileira. Além delas, está Dona Francisca: uma das primeiras integrantes de um lindo projeto de economia solidária da cidade de Crato, no interior do Ceará. O projeto conhecido por “Bonequeiras no Pé de Manga” existe há mais de 18 anos e começou debaixo de um pé de manga...



... na verdade Aninha, o trabalho iniciou na casa de Dona Naninha, uma retirante nordestina que foi para São Paulo e que confeccionava bonecas de pano com sobras de retalho para a sua filha Elizete e a sua sobrinha Gertrudes brincarem...

...mas foi a Senhora Elizete Leite Garcia que fez o projeto ficar conhecido. Ela é psicóloga e autora do método Tatadrama, um tipo de terapia que ajuda muitas mulheres. Durante uma viagem profissional em 2001 para Recife, ela encontrou bonecas de pano que chamaram a sua atenção em uma feira. Vendo aquelas bonecas, ela lembrou de sua infância e, imediatamente, teve a ideia de usá-las em seus grupos de terapia com mulheres...





...o desenvolvimento do projeto fez com que Elizete precisasse de cada vez mais bonecas, fazendo-a voltar para a sua terra natal na cidade de Crato. Com o auxilio de sua prima “Tuda”, como ela chama carinhosamente Dona Gertrudes, ela buscou mulheres que soubessem costurar e um pequeno grupo de costureiras artesãs foi formado para auxiliar o projeto...


...anos depois, ela retornou a Crato na companhia de sua mãe, Dona Naninha, para apresentar o projeto que realizava em São Paulo para aquele grupo que costurava bonecas para ela. E debaixo da sombra de um pé de manga do sitio da família, Elizete apresentou o projeto aplicando o método Tatadrama, fazendo com que as costureiras artesãs descobrissem e entendessem a importância das bonecas de pano que elas costuravam como instrumento transformador da vida de tantas outras mulheres...



...a partir daquele dia, as bonequeiras de Crato continuaram a se encontrar debaixo da sombra do pé de manga para produzirem bonecas de pano juntas, sendo que o grupo chegou a uma marca de 60 mulheres, que costuravam sob a regência de Tuda. Anualmente Elizete retornava à cidade para um novo encontro, e decidiu ir à busca de auxilio financeiro para o projeto. Mais tarde, ele foi reconhecido e apoiado pela secretaria de cultura de Crato, ganhando as universidades e, depois, o apoio do Sebrae. Com o passar do tempo o projeto de Elizete se ampliou, alcançando gestantes em situação de vulnerabilidade social, além de visitar ambientes como hospitais, prisões e asilos, sempre com o objetivo de dar voz as pessoas, auxiliando-as de alguma forma. E para cada novo espaço que ele alcançava, novas bonecas que representavam os personagens destes cenários surgiam. Elizete revela que coleciona mais de 15 mil bonecas, sendo que nenhuma é igual à outra e que todas tiveram um papel importante na vida de alguém.



...hoje aquele pé de manga não existe mais, mas as bonequeiras continuam se reunindo alguns dias da semana para produzirem juntas debaixo de outros pés de manga e, também, costuram de casa. Este trabalho lindo faz nascer bonecas de pano envolvidas por tecidos coloridos e cheias de personalidade. Cada uma nasce da imaginação e do coração de cada mulher envolvida em alguma etapa do projeto e, juntas, representam a diversidade em centenas de personagens do cotidiano e da cultura popular brasileira. São cangaceiros, caipiras, baianas, grávidas, Fridas, fadinhas, santos, dentre tantos outros...


...Elizete diz algo que a mamãe achou tão bonito Aninha. Ela conta que para ela a agulha e a linha a ajudam a tecer emoções, sendo uma forma de olhar para si mesmo, e que todos os dias dezenas de mãos habilidosas trabalham para dar voz e mudar a vida de milhares de mulheres para melhor...


... isto não é fantástico Aninha?... Aninha?


Minha filha adormeceu, e desejo que em seus sonhos ela encontre uma boneca de pano costurada a mão e de vestes coloridas, e que com ela imagine, crie e dê voz às suas emoções! Que com a ajuda dela, Aninha possa sonhar a sua vida cheia de projetos lindos e que nunca se esqueça da força transformadora que um único ato pode ter para a vida de alguém, quando o propósito é para o bem”.



Parte das informações contidas no texto fazem parte de um depoimento de Elizete Leite Garcia, divulgado em setembro de 2019 no youtube. As imagens fazem parte de sites diversos, além do próprio perfil da rede social das bonequeiras.

Até a próxima aventura amiguinho (a)!

Um abraço carinhoso da Aninha.



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