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  • Foto do escritorAninha

Do vale das formigas e dos mandacarus de Pernambuco para o cartão-postal de Florianópolis.

Atualizado: 18 de nov. de 2020





Ficamos um longo tempo fora de casa.

Mamãe precisou viajar a trabalho e decidiu nos levar com ela. Lá estávamos eu e papai, embarcados em mais uma das aventuras inesquecíveis de minha mãe. Passei por lugares tão diferentes, por cenários que jamais imaginei. Tudo o que registrei virou memória, desenho e poema que, agora, eu partilho com você:

Vi o sertão com sua seca,

chapadas a perder de vista,

brinquei na terra de chão batido,

e também comi poeira.


Vi gente que mora longe de tudo,

em casas feitas de barro,

onde telha é luxo.

Atravessei rio, nadei em cachoeira,

descansei debaixo da jaqueira.


Vi homens e mulheres moldando o barro

e entalhando a madeira,

fazendo arte com galho,

com muito respeito à natureza.

Mamãe e eu criamos estas rimas. Na verdade, ela usou estas palavras bonitas para descrever a nossa expedição pelo sertão de Pernambuco. Ela escreveu o poema enquanto curtíamos o pôr-do-sol do Vale do Catimbau, um dia antes do nosso retorno para casa.


A viajem de volta foi longa, e eu acabei dormindo a maior parte do tempo. Lembro que adormeci agarrada à minha formiga de madeira, enquanto sonhava com os lugares e com as pessoas que conheci.


Fonte: https://br.pinterest.com/pin/238057530288440890/


É como se o meu coração estivesse me dizendo, de algum jeito, que não era hora de partir. Já sentia saudades de Pernambuco, este pedacinho do Brasil que ganhou o meu coração. Sonhei que corria de pé no chão pela terra seca do sertão, indo em direção à Tia Simone e ao Tio Benício, que catavam galhos de umburana e de jaqueira para esculpir mais um de seus mandacarus. Eu até tirei uma foto de uma das obras de arte deles, para lembrar sempre!


Fonte: http://g1.globo.com/natureza/videos/t/globo-natureza/v/globo-natureza-umburana/3547928/


Fonte: acervo pessoal.



Também sonhei que fazíamos uma trilha pelo Vale do Catimbau e que as formigas de madeira da Tia Simone corriam atrás de mim de brincadeira. Depois, alcançávamos a beira do penhasco para ver o pôr do sol do Vale.


Foi quando acordei com uma luz forte que esquentava o meu rosto dentro do carro e, ao abrir os olhos, voltei para o presente e descobri onde estava. A luz vinha do reflexo do sol que atingia a Ponte Hercílio Luz: nós estávamos chegando em casa!


Fonte: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/ao-vivo/ponte-hercilio-luz-florianopolis.ghtml

Num salto levantei para observá-la... como eu a amava!

É incrível como algo assim pode nos fazer sentir em casa, é como se a minha cidade não pudesse existir sem ela. A ponte sempre me encantou, seu tamanho, suas luzes... mas, agora, era diferente: ela me convidava para ir além. Eu começava a me fazer perguntas a seu respeito: como foi construída? Quantos anos ela tem? E porque ela tem este nome?


Foi nesta hora que eu tive uma ideia:


- “Papai! Vamos parar um pouquinho!?” - pedi animada, torcendo para ele aceitar.


Ele aceitou! Então paramos o carro na Avenida Beira Mar para vê-la mais de perto. Ficamos ali até o entardecer e aproveitei o momento para contar para os meus pais o montão de perguntas que passavam pela minha cabeça:


- “Porque a Ponte Hercílio Luz tem este nome? Quem decidiu chamar ela assim?


Sorrindo, mamãe respondeu:


“-Esta é uma boa pergunta Aninha! Quem sonhou com ela foi um engenheiro chamado Hercílio Pedro da Luz, que no ano de 1920 era o presidente de Santa Catarina e ordenou que a ponte fosse construída. Isto aconteceu há exatamente 100 anos!!




O Senhor Hercílio Luz era um homem muito determinado e que ajudou Florianópolis a se desenvolver. Ele foi tão importante para a cidade que já foi homenageado de diversas formas: seu nome está em ruas e avenidas, e até no aeroporto da cidade. Além disso, uma estátua sua foi construída na cabeceira da ponte, num lugar conhecido como Parque da Luz.”



Fonte: https://ndmais.com.br/noticias/desrespeito-a-memoria-de-hercilio-luz/






- “Nossa mãe! Que ponte velha! E este tal de Hercílio Luz ficou mesmo famoso por aqui! Eu quero muito ver esta estatua, por favor!! Vamos? ” - perguntei insistindo.





Meus pais decidiram me levar até o Parque da Luz, um mirante onde fica a estátua que eu queria conhecer.


De lá, conseguimos ver a ponte mais um pouquinho. E, agora, eu estava curiosa para saber como e porque é que ela foi construída sobre o mar.











Então, papai me contou direitinho:


- “Filha, naquele tempo haviam muitos motivos para isso, e um deles foi a necessidade das pessoas que moravam na ilha conseguirem ir até o continente utilizando outros tipos de transportes além dos barcos. E, assim, a obra foi iniciada.



Uma curiosidade é que o seu primeiro nome foi Ponte da Independência, passando a se chamar Hercílio Luz em homenagem ao engenheiro que, infelizmente, adoeceu e morreu antes dela ser inaugurada. Mas, Aninha, respondendo a sua outra pergunta: você se lembra que durante a nossa viagem a gente atravessou algumas pontes e que cada uma delas era de um jeito? Então, a Ponte Hercílio Luz é um tipo de ponte pênsil com olhal.”


Pênsil? Olha... o que? Eu não estava entendendo nada, foi quando papai me explicou:


- "Isto significa que ela é todinha feita de ferro e aço, e que o que a sustenta de pé são as colunas ou pilares que foram colocados debaixo d’água. Olhal é uma abertura, um vão ou espaço vazio de um arco que atravessa de lado a lado uma ponte. A ponte Hercílio Luz é considerada a maior ponte suspensa do nosso país, medindo 821 metros. E foi necessário que muitos homens trabalhassem para construí-la, sendo que as obras iniciaram no ano de 1922 e terminaram em 1926, ou seja, demorou 4 anos para ficar pronta.”


Enquanto ouvia o papai, tentava imaginar as pessoas trabalhando no mar. Puxa, que trabalho perigoso! Foi quando mamãe chamou a minha atenção dizendo o seguinte:


-“E você sabe, meu amor, que naquele tempo haviam poucos carros nas ruas e que as pessoas usavam carroças para se locomover ou, então, caminhavam. E olha que para atravessar a ponte era preciso pagar um pedágio, mesmo estando a pé, e isto foi feito para que a população ajudasse a pagar a construção da ponte.


Fonte: http://antigosverdeamarelo.blogspot.com/2013/10/ponte-hercilio-luz-desfile.html


É parecido com o que aconteceu em nossa viagem, quando o papai teve que fazer paradas para pagar os pedágios, lembra?”

Eu lembrei muito bem. Foram tantos pedágios que até perdi a conta! Achava muito chato ter que ficar em filas esperando para fazer aquilo. Então fiquei pensando porque é que a ponte ficou parada tanto tempo, antes de poder ser usada novamente. Perguntei para papai e ele respondeu:


-“Aninha, a ponte foi fechada completamente em 1992 por não estar em condições seguras para uso. O tempo, a maresia e o peso que ela carrega pelo trânsito intenso de veículos foram fazendo com que ela se desgastasse, sendo necessário interditá-la para que ela se mantivesse de pé. E foi neste mesmo ano que a ponte foi considerada Patrimônio Histórico, Artístico e Arquitetônico do Município de Florianópolis e 5 anos depois, como Patrimônio Brasileiro! ”


Minha mãe emendou a fala de meu pai, dizendo:


- “A ponte é o cartão-postal da nossa cidade, filha. E o que a mamãe mais gostava de ver eram as suas luzes acesas no entardecer.



Mas, pelo desgaste que ela sofreu, foi necessário que ela passasse por algumas reformas e, com isto, as luzes foram removidas. Mas o lado bom é que, agora, nós podemos atravessá-la novamente, pois ela foi reformada e reaberta!”.


É verdade! E o mais legal é que a gente participou deste momento histórico. Nós estávamos lá no dia em que a ponte foi reaberta, e foi inesquecível! Isto aconteceu poucos dias antes do ano de 2019 acabar e, de lá para cá, a gente vê carro, ônibus, pedestres e ciclistas aproveitando a travessia da ponte.






É incrível pensar que esta ponte já passou por tantas aventuras. Também, 94 anos de idade não é pouca coisa né?


Depois deste passeio pela história da Ponte Hercílio Luz, eu passei a vê-la como o sonho de alguém que se transformou em realidade com a ajuda de muita gente. E falando em sonho, vou te dizer que a viajem que fizemos me deixou lembranças que jamais esquecerei.

Foram coisas tão incríveis que aprendi com as pessoas maravilhosas que conheci mas, a melhor delas, eu vou te contar agora: do sertão pernambucano ao litoral catarinense, finalmente eu entendi que os homens constroem diferentes tipos de pontes, e que elas não são feitas só de ferro não, minha gente! Pontes também são feitas de dois materiais invisíveis, mágicos e especiais chamados "sonho" e "afeto"!

Calma, eu vou te explicar! É mais ou menos assim: eu posso diminuir a distância que me separa do Tio Benicio e da Tia Simone construindo uma ponte na minha cabeça. É só fechar os meus olhos e sonhar acordada, lembrando dos momentos gostosos que tivemos juntos. Cada lembrança - dos abraços, das conversas, das risadas, do carinho - é um pedacinho da ponte que eu vou construindo com a minha imaginação e que me leva de volta para o Vale do Catimbau, diminuindo a saudades que eu já sinto deles. Assim, esta ponte que eu construo com as minhas memórias faz com que nós possamos nos encontrar sempre, mas de um jeito diferente. Não é legal? Eu realmente gostei desta história de construir pontes.

E depois de tanto aprendizado a respeito da Ponte Hercílio Luz, é claro que eu não poderia deixar de fazer um desenho desta construção incrível que é o cartão postal da minha cidade. A seguir, eu compartilho a minha obra de arte com você!



7

Este desenho faz parte de uma série de outros, criados para você colorir e aprender a respeito de lugares incríveis na Ilha da Magia. Quer saber mais? Acesse o link:




O Mirante da Ponte Hercílio Luz fica na Rua Jornalista Assis Chateaubriand, número 70, no centro de Florianópolis e de lá é possível ter uma visão panorâmica da ponte. Outras curiosidades que envolvem a construção desta obra incrível estão no fato de ser projetada para ser utilizada também como ferrovia, o que nunca aconteceu; e no Canal do Estreito ter sido o local escolhido para a sua construção por ter a menor distância entre a ilha e o continente, o que impactaria nos custos da obra. O cartão-postal de Floripa completou 94 anos de existência, e foram 28 anos de espera até que, finalmente, pudesse ser utilizada para o tráfego de veículos e pedestres outra vez.




Até a próxima aventura

pelo nosso rico e fantástico Brasil!


Um abraço carinhoso da Aninha.

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