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Como Tudo Começou: A Paixão que Virou Bonecos e Histórias

  • Foto do escritor: Aninha
    Aninha
  • há 5 dias
  • 7 min de leitura

Atualizado: há 5 dias

Da curiosidade ao afeto: a jornada que transformou pano em identidade, e histórias silenciadas em presença.

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QUEM SOU EU


Meu nome é Ana Paula Dreher. Sou arquiteta por formação, curiosa por vocação,  aprendiz eterna do Brasil profundo e hoje, apaixonada por bonecas. Minha vida sempre foi guiada pela curiosidade — uma inquietação doce, que me empurra para dentro das histórias, das mãos que criam, das vozes que sustentam tradições, da memória que resiste. A Casa de Ana nasceu dessa inquietação. Mas o foco deste texto são os bonecos — essas pequenas almas de pano — que nasceram de um desejo ainda maior: dar forma ao que não podia continuar invisível.


Como Tudo Começou — As Primeiras Bonecas


A história da coleção de bonecos não foi planejada. Ela começou num gesto simples: uma bonequeira chamada Adriana chegou à loja com pequenas bruxinhas e bonequinhas feitas à mão.

Eu comprei algumas — talvez porque algo nelas já chamava um pedaço meu que eu ainda não sabia nomear.


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Mas foi no quarto aniversário da minha filha, em 2019, que o destino abriu a porta certa.


Eu queria fazer para ela uma festa sobre o Curupira, e perguntei à Adriana se ela conseguiria criar um boneco daquele encantado do nosso folclore.


Ela fez.


E quando aquele Curupira chegou às minhas mãos, algo mudou para sempre

Pensei: e se essa história ganhasse corpo? E se as crianças pudessem segurá-la? E se o folclore deixasse de ser apenas palavra e virasse presença?




Daí nasceram os primeiros bonecos: Curupira, Caipora, Saci e outros guardiões da nossa imaginação ancestral.


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 As Primeiras Narrativas — Do Folclore ao Brasil Real


No ano seguinte, em 2020, minha filha ganhou outra boneca: a Aninha Praia, pois este seria o tema do seu aniversário de 5 anos.


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Aninha, desde pequenininha, viajava comigo para todos os lugares — Amazônia, sertão, litoral… — e as perguntas dela me faziam ir além.


Por que não contar as histórias das nossas viagens através dessa mascotinha chamada Aninha?


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E foi aí que veio mais uma ideia: e se ela virasse uma boneca com uma máquina fotográfica no pescoço, uma mochila nas costas e um mapa nas mãos — exatamente como ela viaja comigo?


Até chegar ao formato final, foram vários estudos...


Nascia ali a Aninha, e com ela o projeto “Aninha pelo Brasil”: a menina que viaja, vê, pergunta e conta.


A menina que descobre o país não pelos livros, mas pelos encontros.




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A partir daí, a vontade de contar histórias cresceu.


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Vieram os pescadores do Campeche, as rendeiras, os benzedeiros, os lampioneiros, os franceses do correio, e tantos outros que fazem parte dos alicerces da Ilha, os personagens que sustentam o cotidiano, as memórias das nossas comunidades.



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Cada boneco era uma conversa com o passado. Cada personagem, um convite para olhar o Brasil com mais verdade e mais afeto.


Ai  vieram as personalidades locais como Cruz e Souza, Antonieta de Barros, Franklin Cascaes e uma homenagem a Valda Costa.


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O Projeto Consciência Negra — A História Que Faltava Ser Contada


Quanto mais eu estudava a história de Santa Catarina e do Brasil, mais eu percebia as lacunas. Percebia que muitas narrativas nunca haviam chegado até mim — nem nos livros, nem nas escolas, nem nas conversas.


Eram histórias negras, histórias de mulheres, histórias de luta — escondidas nas frestas desse país. Histórias que sustentam nossos alicerces e, ainda assim, foram silenciadas.

Compreendi então que um país que não conhece a si mesmo — sobretudo o que foi apagado — cresce sobre feridas que nunca cicatrizam.


E foi aí que nasceu o Projeto Consciência Negra. Um compromisso, não apenas um projeto: contar a história do Brasil pelo olhar africano que foi silenciado. Um movimento para devolver rosto, corpo e voz a quem foi retirado das páginas oficiais.


Criamos uma linha do tempo com personalidades negras que marcaram profundamente a formação do Brasil, desde antes de 1500 até os dias atuais, e que, apesar de sua importância, foram sistematicamente excluídas da narrativa oficial. São descendentes de povos africanos trazidos à força durante o tráfico transatlântico que, mesmo sob condições brutais, preservaram e transmitiram conhecimentos, práticas culturais, tecnologias, modos de organização social, sistemas religiosos e visões de mundo.


Esses saberes — adaptados e reinventados no Brasil — influenciaram diretamente a nossa língua, culinária, música, religiosidade, relações comunitárias e formas de resistência.

A contribuição africana está na base da sociedade brasileira, mas durante séculos foi silenciada ou minimizada. Recuperar essas histórias é fundamental para compreender, com verdade e profundidade, a formação do país.


Cada boneco dessa coleção é um país inteiro que se levanta. E aqui eu falo um pouco deles, porque cada um merece ser nomeado:


  • Rainha Nzinga – diplomata, estrategista, guerreira que enfrentou a dominação portuguesa por quatro décadas e cuja memória ecoa na Congada brasileira.

  • Ganga Zumba – primeiro líder dos Palmares, herdeiro de Aqualtune, que plantou os alicerces da resistência quilombola.

  • Dandara dos Palmares – guerreira com domínio da capoeira, estrategista, símbolo de liberdade e ancestralidade.

  • Zumbi – líder máximo de Palmares, assassinado em 20 de novembro, data que hoje homenageia sua luta.

  • Chica da Silva – mulher que reinventou sua existência num sistema brutal, símbolo de autonomia e subversão.

  • Maria Felipa, heroína da Independência da Bahia, que por séculos permaneceu invisibilizada, mas que hoje finalmente se levanta com a dignidade que merece.

  • Hipólita Jacinta – única mulher reconhecida como inconfidente, protagonista da luta pela liberdade mineira.

  • Maria Quitéria – primeira mulher a integrar o Exército Brasileiro, símbolo de bravura na Independência.

  • Anita Garibaldi – mulher além de seu tempo, vista através da história farroupilha e suas contradições.

  • Luiz Gama – vendido pelo próprio pai, tornou-se um dos maiores abolicionistas do país, ganhou títulos póstumos como reparação histórica.

  • Machado de Assis – gênio negro fundador da Academia Brasileira de Letras, tantas vezes embranquecido.

  • Tia Ciata – mãe do samba, guardiã de tradições e protagonista no nascimento do samba urbano carioca.

  • Cruz e Souza – nosso poeta maior, príncipe do simbolismo, cuja história atravessa dores e transcendências.

  • Antonieta de Barros – primeira deputada negra do Brasil, educadora que acreditava no poder da palavra.

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Em novembro de 2025, durante a Semana da Consciência Negra, três novas figuras chegaram para ampliar ainda mais essa linha do tempo que estamos costurando: Chiquinha Gonzaga, Tereza de Benguela e Maria Firmina dos Reis. Cada uma delas carrega um pedaço fundamental da história do Brasil — uma história que quase nunca apareceu nos livros, mas que agora ganha forma, expressão e presença em pano.


Chiquinha, com sua música que atravessou fronteiras e lutou pela abolição.


Tereza, líder extraordinária do Quilombo do Quariterê, estrategista e símbolo de resistência feminina negra.


E Maria Firmina, foi a primeira romancista negra do Brasil, autora de Úrsula e criadora de uma escola gratuita que defendia liberdade, dignidade e educação igual para todos.


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Lançar essas três mulheres juntas, nesse mês tão simbólico, foi mais do que uma escolha: foi um gesto de reparação, memória e honra.


E muitos outros que estão chegando. Porque a história verdadeira do Brasil ainda está sendo reconstruída — boneco por boneco.


E, enquanto reconstruímos o Brasil em pano, também voltamos os olhos para a nossa própria casa — para as memórias vivas da Ilha.


São bonecos criados para homenagear pessoas da Ilha que marcaram nossa história , como Dinho Rendeiro, Sua Dedinha da Banda da Lapa e, mais recentemente, Seu Getúlio, pescador querido que nos deixou há pouco tempo e virou história no nosso blog "A Menina e o Mar do Campeche": https://www.aninhapelobrasil.com.br/post/a-menina-e-o-mar-do-campeche


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Aninha virou bonequinha, ganhou uma casinha, depois cresceu e virou boneca viva, caminhando pelas ruas do Campeche e do Ribeirão da Ilha. 


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Assim seguimos: contando histórias para adultos e crianças, costurando memória e afeto.


Sobre a Bonequeira — Uma Gratidão Enorme


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Nada disso existiria sem Adriana.


Eu pesquiso, estudo, imagino, sonho e mergulho nas narrativas... 


Mas é ela quem costura forma ao invisível, quem transforma minha visão em corpo, tecido, expressão e presença.


Ela oferece matéria, beleza e alma.


A delicadeza não está apenas nos seus pontos de costura, mas na maneira como acolhe cada personagem com respeito e verdade.


Minha gratidão a ela é profunda e eterna.



O Que Isso Mudou em Mim


"Escrever esses bonecos, estudar essas vidas e encarar essas histórias me transformaram profundamente."


Conhecer as frestas da história do Brasil — aquelas que ninguém nos contou — fez emergir um novo tipo de orgulho. Não é um orgulho de fantasia, mas de verdade. Um orgulho que dói, ao desvelar injustiças, mas que simultaneamente liberta, ao reconhecer a força e a beleza de nossa diversidade.


Hoje, entendo que minha curiosidade sempre existiu por um propósito maior. Ela realmente se converteu em voz, e através dos bonecos, essa voz finalmente ganhou forma, rosto, corpo e memória.


E talvez tudo isso faça ainda mais sentido porque, no fundo, hoje eu percebo que caminho por uma estrada que começou muito antes de mim.


A HERANÇA QUE EU NÃO SABIA QUE CARREGAVA


E, no meio desse caminho, descobri algo que me atravessa de forma ainda mais profunda:

hoje, sem nunca ter planejado, me tornei uma colecionadora de bonecos — assim como minha avó.


Ela colecionava bonecas de viagem, pequenas embaixadoras dos lugares por onde passava.

Eu, sem perceber, herdei esse gesto.

Ela guardava o mundo; eu guardo o Brasil.

Ela trazia culturas para dentro de casa; eu devolvo vozes para dentro da nossa memória.

Hoje entendo: não foi por acaso.

Eu caminho onde ela caminhou.

Só mudei o mapa.


Cada boneco é uma peça. Cada personagem, um convite. Cada história, uma devolução de dignidade. E assim, eu continuo minha jornada, pesquisando, costurando, questionando e criando, porque contar essas histórias é mais do que um trabalho — é uma missão que transcende o indivíduo e toca o coletivo.


Deixo esse caminho aberto para você também.


Se uma dessas histórias ressoou em seu coração, compartilhe-a. Conte para alguém, mostre para uma criança, traga para perto de si uma dessas pequenas memórias de pano. Elas foram criadas para viajar, para ensinar e para transformar.


Se você tem sugestões, lembranças ou conhece personagens que merecem ser trazidos à luz, eu adoraria ouvir.


Essa é uma construção que pertence a todos nós, e cada voz é essencial para tecer um Brasil mais completo e verdadeiro.


E agora, deixe-me perguntar: qual história do Brasil você gostaria de ver ganhar forma? Quem são os heróis e heroínas anônimos que merecem se levantar em pano, cor e verdade?


Porque enquanto houver alguém disposto a ouvir, a história do Brasil continuará sendo reconstruída — pelas mãos, vozes e corações de todos nós.


Este projeto não é apenas sobre bonecos; é sobre criar um espaço onde a história viva pode ser compartilhada, onde o passado encontra o presente e onde juntos podemos moldar um futuro mais consciente e justo.


Junte-se a mim nesta missão. Vamos continuar a descobrir, a comemorar e a costurar o Brasil que muitos livros escondem, mas que nossas almas conhecem.



Até a próxima História!


Com carinho da Ana e da Aninha.


aninhapelobrasil © 2025

Texto e imagens protegidos pela Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610/98).

Reproduções ou adaptações só podem ocorrer com autorização da autora.


Idealizadora: Ana Paula Dreher / Texto escrito e revisado por:  Ana Paula Dreher / Ilustrações: Ana Paula Dreher


Idealizadora da Casa de Ana e do projeto Aninha pelo Brasil

 
 
 
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