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  • Foto do escritorAninha

O que o barro quis me contar


Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/5086/experiencias-esteticas-poeticas-e-ludicas-com-argila


Minha mãe está sempre me levando para lá e para cá, e quando ela me convida para conhecer algum lugar, eu topo na hora! Geralmente a gente vai em lugares diferentes como galerias, ateliês, oficinas de arte, pois este é o trabalho dela: pesquisar o nosso artesanato e viajar pelo Brasil em busca de histórias para contar. Eu adoro o que ela faz, e como já vivemos muitas aventuras juntas, eu também tenho algumas boas histórias para contar.


Naquele dia gostoso de sol, no meio da semana, mamãe me pegou de surpresa ao me convidar para um desses passeios:


- Aninha, você quer conhecer a olaria do Tatá? – disse ela já se organizando para sair de casa.


- Quero! Mas, mãe, o que é uma olaria? E quem é esse tal de Tatá? – perguntei curiosa.

Então, ela me explicou que olaria é um lugar onde são fabricadas peças em cerâmica, que o oleiro é um artesão que molda o barro, ou argila, para fabricar estes objetos; e que o Tatá é um deles. Ela me disse que ele trabalha com o barro há mais de 40 anos e que é muito conhecido na Grande Florianópolis pela sua arte louceira, ou seja, por transformar o barro em peças utilitárias como panelas, pratos, vasos e muito mais.


Fonte: acervo pessoal.



Eu achei muito legal, mas, na verdade, o que eu queria mesmo saber é como que este tal de Tatá conseguia fazer o barro virar panela. Quem sabe se eu aprendesse com ele, poderia fazer barro com a terra aqui de casa e criar um montão de loucinhas para fazer comida para as minhas bonecas.

E lá fomos nós para a olaria do Tatá! Confesso que eu estava ansiosa para chegar e, no caminho, quis saber mais sobre o barro. Então, comecei a perguntar:


- Mãe! Como é que o oleiro Tatá faz o barro virar vaso? O barro é mole, como é que pode? E onde é que ele conseguiu tanto barro para fazer penelas há tanto tempo? Será que ele cavou o quintal dele inteiro? Mãe.... – perguntava sem parar.


Fui interrompida pela minha mãe, ao pedir para eu dar uma olhadinha para o lado, no banco do carro. Havia uma pasta e, nela, um monte de fotos e imagens. Fui folhando e não acreditei no que vi! Uau!! Minha mãe sempre pensa em tudo, tudinho mesmo! Ela havia separado várias imagens que ela guardava de recordação, de suas pesquisas a respeito da produção de cerâmicas em Santa Catarina. E enquanto eu olhava, ela ia me explicando o que eu queria saber:


- Aninha, nesta pasta eu separei algumas imagens para compartilhar com você e, assim, eu posso te explicar um pouquinho do que aprendi nas minhas pesquisas. Mas, antes, quero que você saiba que a palavra cerâmica significa terra ou argila queimada, pois ela é uma transformação do barro em uma pasta que, quando levada ao forno, se torna resistente e pode ser muito útil para várias coisas.




















Fonte: acervo pessoal.


Eu ouvia atentamente enquanto folheava a pasta com imagens, e ela me contando as histórias cada uma delas:


- A natureza é tão maravilhosa! Ela nos oferece tudo o que precisamos, não é mesmo? Na terra podem ser encontrados diferentes tipos de argila, sendo que a branca e a vermelha são algumas delas. Destas duas, a vermelha é a mais usada para se fazer peças de artesanato que, depois de prontas, podem ser pintadas com tintas de verniz para ficarem mais brilhantes, mas, também, podem ser decoradas com outros tipos de tintas e de muitas maneiras diferentes.





- É muito legal imaginar que a cerâmica é tão antiga que existiu até mesmo antes do homem descobrir o cultivo do solo para plantar alimentos. Você acredita nisso? Pois é verdade Aninha! Os livros nos contam que a cerâmica vem lá do tempo da pré-história e você não vai acreditar no que eu vou te contar agora: imagine só que há alguns anos atrás os arqueólogos descobriram a peça de cerâmica mais antiga do mundo! Ela foi encontrada em uma caverna da China e acredita-se que ela tenha mais de 20 mil anos de idade! Abra a pasta e veja a primeira imagem que eu trouxe, e você a conhecerá.


Fonte: Fonte: https://www.epochtimes.com.br/ceramica-20000-anos-china-muda-historia-antiga-mundo/



Uau! Ela era realmente velha... muito, muitíssimo! E parecia um pedaço de algum vaso antigo. E mamãe continuou:


- Mas eu também quero te contar como que esta arte começou aqui no Brasil. Foram os povos indígenas que produziram as primeiras peças em cerâmica no nosso país, e elas eram feitas por mulheres. Elas criavam as peças com o objetivo de as utilizarem para o cozimento dos alimentos e, também, para servi-los. E até hoje a cerâmica é uma tradição e uma herança muito importante para a cultura indígena e, inclusive, feita por homens. Nas próximas imagens que eu separei você verá um dos índios que a mamãe conheceu moldando o seu barro e preparando o fogo para queimar as suas cerâmicas à céu aberto. Ele vive em uma aldeia do povo Xakriabá, em Minas Gerais.



Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=9tTnXIpESVg


Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=9tTnXIpESVg



Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=9tTnXIpESV



- E você sabia que aqui em Santa Catarina ainda existem comunidades indígenas Aninha? Aqui em Florianópolis há muitos índios Guarani, e em outros lugares do estado de Santa Catarina há terras indígenas de povos Xokleng e Kaingang. Eles acabaram buscando a cidade para vender a sua arte em cerâmica e, assim, contribuíram para que os seus conhecimentos fossem conhecidos e compartilhados com outras pessoas não índios, que aprenderam esta arte e se tornaram oleiros. Veja esta foto de uma anciã kaingang com as mãos no barro produzindo a sua panela em cerâmica. E, depois, a de uma menina Guarani segurando uma bola de barro.


Fonte: https://img.socioambiental.org/d/211754-1/kaingang_19.jpg



Fonte: https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/especiais/reportagem_cultural/2021/03/781904-mulheres-guarani-e-kaingang-recuperam-costume-ancestral-da-producao-ceramica.html



Nossa! Eu nem poderia imaginar tudo o que minha mãe me contava. Ela, percebendo meu interesse, continuou:


- Mas aqui em Santa Catarina não foram somente os povos indígenas que nos deixaram esta arte linda não. Açorianos vindos da ilha dos Açores de Portugal chegaram aqui na baía norte da ilha de Florianópolis por volta de 1750, há muito tempo atrás. Estes povos acabaram se espalhando pela ilha e, também, em outras cidades aqui perto como São José, Porto Belo, Bombinhas, Governador Celso Ramos, Tijucas e outras. Alguns destes açorianos eram oleiros e trouxeram o oficio da olaria para Santa Catarina. Só que eles tiveram contato com a cultura e com a arte em cerâmica dos povos indígenas que habitavam as terras daqui e isto fez com que eles misturassem o que já sabiam como o que viam na cultura dos índios. Destas cidades, São José é a mais tradicional quando o assunto é olaria, lá existe a escola de oleiros Joaquim Antonio Medeiros, que você vai ver na próxima imagem da pasta.



Fonte: http://g1.globo.com/sc/santa-catarina/noticia/2015/05/sao-jose-abriga-unica-escola-de-oleiros-da-america-latina.html




Mamãe me contou que esta escola recebe pessoas que desejam aprender a transformar o barro em arte. E ela contou que muita gente já passou por esta escola, e isto ajudou a fazer com que a arte em cerâmica permanecesse “viva” na nossa cidade. Então ela me contou dos oleiros daqui:


- E você sabe, filha, que os oleiros são tão importantes para a cidade que a gente até tem um dia no calendário que os homenageia. É no dia 19 de setembro que se comemora o Dia do Oleiro no Município de São José, bem aqui onde estamos passando agora. E é nesta direção que fica a olaria do Tatá Aninha, para onde estamos indo. Ele é um dos oleiros que ainda produz as tradicionais cerâmicas açorianas no formato de louças. Vire a página da pasta e descubra quem é o Tatá.



Fonte: arquivo pessoal



- Desde que a mamãe o conheceu pessoalmente, fiquei com muita vontade de levar você até lá para conhecer este trabalho tão lindo que o Tatá faz há tanto tempo. Foi ele quem inspirou a mamãe a fazer aquela oficina de argila com crianças e adultos em frente à loja Casa de Ana, lembra?


Eu não me lembrava, mas mamãe me ajudou me mostrando algumas fotos que ela tirou naquele dia. E eu lembrei do tio Marcio, que me ajudou a colocar a mão na massa numa oficina que foi feita lá na loja da minha mãe que tem o meu nome e o nome dela - Casa de Ana. Neste dia eu fiz as minhas primeiras panelinhas de argila.


Fonte: arquivo pessoal



Eu dividi a mesa com outras crianças e, juntos, a gente aprendeu a modelar a argila. E isto foi muuuito legal!



Fonte: arquivo pessoal



Enquanto olhava para as fotos, senti o carro parar. Havíamos chegado na olaria e eu nem tinha percebido o tempo passar. Foram tantas histórias que mamãe me contou, tantas imagens incríveis, que eu fiquei ainda mais ansiosa para ver tudo de perto na olaria do tio Tatá.


A visita foi melhor do que eu imaginava. Na companhia da minha boneca de pano, vi e senti muitas coisas incríveis e aproveitei para registrar tudo o que eu podia com a minha máquina fotográfica. Senti o cheirinho do barro de perto, ouvi o barulho do torno.



Fonte: arquivo pessoal




Pude ver os oleiros trabalhando no torno e sentir aquela massa fofinha e macia deslizando entre os meus dedos, ao me deixarem modelar um pouquinho com eles.



Fonte: arquivo pessoal



Fiquei impressionada com a quantidade de peças nas prateleiras. Era panela, gamela, alguidar e vaso que não acabava mais!



Fonte: arquivo pessoal



No final, ganhei de presente umas loucinhas de barro para brincar e, também, um tijolinho de argila crua para que eu pudesse criar as minhas próprias loucinhas em casa. Foi demais!


Fonte: arquivo pessoal




Ao chegar em casa, corri para o quintal, abri o meu tijolinho de argila e, com a ajuda da água, comecei a sua transformação! Lembrei de uma música que uma professora da escola sempre cantava quando íamos para a cozinha fazer massinha de pão. Ela é bem pequenininha e tem uma melodia gostosa de ouvir. Fico repetindo o seu refrão sempre que brinco de massinha e enquanto a canto, eu me concentro. Nestes instantes, eu tenho a certeza de que com as minhas mãos eu posso criar o que eu quiser! E você também pode!

Massa, amassa a massa com a mão,

Massa, amassa, a massa com a mão.



Um beijo carinhoso, Aninha.









E se você quiser saber mais a respeito da visita à olaria do Tatá,

acesse o blog da Casa de Ana:



e leia o que descobrimos, a partir do olhar de minha mãe.















Também quero te apresentar

o mais novo membro da família

“bonecos colecionáveis –

personagens da ilha”: o oleiro!


Acesse a loja

e saiba mais a respeito dele:


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