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  • Foto do escritorAninha

“Sim Aninha, nós temos bananas, e como temos!”

Disse mamãe enquanto eu observava, admirada, uma plantação gigante de bananas pela janela do carro. Estávamos a caminho de Corupá, um pequeno município localizado na região norte de Santa Catarina.


No caminho, ela me explicava:


- Aninha, vamos para uma região muito bonita do Vale do Itapocu, que possui uma rica biodiversidade em meia a montanhas e cachoeiras. E, também, um lugar conhecido como a Capital Catarinense da Banana.


Tinha de ser, pensei. Pois nunca havia visto tantos pés de banana plantados em um lugar só. E mamãe continuou me contando algumas curiosidades de Corupá:


- Filha, você sabia que “Corupá” é uma palavra indígena que significa “paradeiro de seixos” ou lugar de muitas pedras?! Acredito que os indígenas que viveram por lá escolheram este nome para representar a natureza da região. Aliás, não é só pelas bananas que a cidade é conhecida, ela também é a Capital catarinense das plantas ornamentais e das orquídeas.


Fiquei ouvindo ela e observando a mata, realmente havia natureza por toda parte. Foi quando li uma placa que dizia “Rota das Cachoeiras” e pedi pra gente conhecer. Então, mamãe disse:


- Com certeza Ana! Esta rota é uma Reserva Particular do Patrimônio Natural que há em Corupá, uma área privilegiada da Mata Atlântica que podemos acessar por trilhas que nos levarão para conhecer 14 cachoeiras, acredita? E uma delas é a cachoeira Salto Grande, a maior queda d’água deste circuito, com mais de 125 metros de altura, acredita? Mas, para este passeio, precisamos nos preparar bem! Pois a caminhada é longa!





- Uau!!! Mãe, eu acho que um final de semana será pouco para conhecer tudo! Eu não imaginei que em uma cidade tão pequenininha teríamos tantas aventuras para fazer! – disse animada.


- Então filha, veja só como é gostoso conhecer o Estado onde vivemos! Santa Catarina não é só praia, como muitos pensam. Há muita coisa legal para a gente conhecer em todo o Estado! Olha lá Aninha!! Veja que demais!


Mamãe apontava eufórica para uma construção muito antiga. Estávamos no centro da Cidade e papai parou o carro. Ao descermos, me vi num lindo jardim e mamãe continuou dizendo:


- Este é o museu da Cidade, antigamente ele foi um Seminário. Não é lindo? Também há muita história e cultura para desbravarmos por aqui!





- Este é o museu da Cidade, antigamente ele foi um Seminário. Não é lindo? Também há muita história e cultura para desbravarmos por aqui!


Sai correndo pelos jardins, e achei muito lindo tudo o que vi! Papai viu minha empolgação e disse:


- Filha, na Cidade também há o Orquidário Municipal Alvim Seidel para conhecermos, ele tem mais de 100 anos de tradição no cultivo destas belas flores.




E você está certa, teremos de voltar para Corupá para conhecermos melhor cada um destes lugares, porque desta vez a nossa missão é outra, lembra?


- Sim mamãe! As bananas!!! – respondi dando risada




Ficamos mais um pouco por ali e depois caminhamos pela cidade. Foi muito divertido caminhar pelas ruas, pois encontramos coisas engraçadas: as lixeiras eram em forma de bananas, os postes de iluminação também, e eu achei isso muito legal! De repente, chegamos um uma loja de bananas, é isso mesmo! Uma loja em que tudo era feito com bananas: comidinhas, bebidas, artesanatos e até jóias feitas com as fibras da bananeira. O que eu mais amei foi poder provar os chips, as balinhas e as passas, uma delicia!




Fonte: acervo pessoal




Quem nos recebeu foi a Gisleine que é casada com o neto do Senhor Alfredo, o fundador da loja. A loja foi aberta em 1947 e ela trabalha ali há mais de 30 anos. Eu queria muito saber como aquelas balinhas eram feitas e, gentilmente, ela explicou que as frutas são desidratadas bem devagarzinho em um forno artesanal à lenha, e é isto que dá um sabor especial para os doces. E sabe o que eu achei mais incrível? Foi saber que a família do Seu Alfredo começou a fazer doces por causa de uma necessidade: para reaproveitar as sobras das bananas que eles colhiam dos pés e que não serviam mais para serem vendidas ou consumidas. Não é demais?


Após curtimos estas delicias, pegamos uma estrada para o interior e que nos levaria para a casa de uma família muito especial: a do Senhor Heinz, um dos mais antigos produtores de banana de Corupá. Gostei muito de conhecer o lugar onde ele vive e de ouvir as suas histórias.



Fonte: acervo pessoal



Enquanto ele falava, eu olhava para as casas e os morros verdinhos que tinham por lá. E o bananal? Ele é gigante! Tem banana pra todo lado! Curiosa, perguntei:


- Tio Heinz, como é que você conseguiu plantar tudo isso? Deve ter demorado muuuuito! – disse admirada.


Fonte: acervo pessoal


Ele respondeu:


- Menina, realmente dá muito trabalho. Mas eu não faço isso sozinho. Por aqui, toda a família ajuda, e cada um faz uma parte do trabalho. Sempre foi assim, meu pai aprendeu com o meu avô e eu aprendi com o meu pai e, hoje, ensino meus filhos e netos. Sabe Aninha, uma das coisas que a lida com a terra me ensinou é ter paciência, porque na natureza tudo tem o seu tempo: têm tempo de preparar a terra, de plantar as mudas, de colher os frutos, de podar. Outra coisa muito importante é observar a natureza, ver o que as plantas estão precisando e cuidar delas.


- Então você deve ser um ótimo cuidador de plantas tio Heinz, pois os pés de bananas estão verdinhos e carregados de cachos de bananas gigantes! – falei admirada.


Sorrindo, Tio Heinz falou:


- O tio planta bananas há mais de 40 anos e aprendi muito observando e cuidando da terra.


Fiquei olhando para os pés de banana e algo me chamou a atenção. Então, fui logo perguntando:


- Tio, porque é que você cobriu aqueles cachos de banana com sacos de plástico? Por acaso é uma capa de chuva para elas não se molharem?


- Ah! Estava esperando você me perguntar! Eu já vi muitas coisas acontecerem por aqui Aninha: já teve vendaval que levou tudo embora e que fez a gente começar tudo outra vez, já teve picada de cobra também, pois nos bananais é comum tem cobras sabe? E, às vezes, acontece que alguns passarinhos pousam nos cachos para beliscar as bananas ou alguns insetos insistem em pousar nelas e isto faz com que as frutas fiquem “machucadas”, com manchinhas escuras e algumas até adoecem. Então, protegemos os cachos com estes sacos para evitar que isso aconteça e, também, para que elas não peguem tanto frio. Isto tudo interfere na qualidade da banana.


Fonte: acervo pessoal



Nossa! Eu não sabia disso, fiquei pensando em como plantar banana dá trabalho. Mas o que eu queria mesmo era provar uma. Então, pedi para tio Heinz levar a gente para dentro do bananal para colher uma. Lá, ele ainda me explicou que pés de banana nascem sozinhos, um pertinho do outro, como se fossem “filhotes” que ficam perto de suas mães. Por isso é que só se planta o pé de banana uma vez e, depois, a própria natureza se encarrega de ir produzindo outros pés ao lado da que se plantou primeiro. Por isso que ao lado de cada pé de banana maior havia outros menores.


Enquanto o Tio Heinz escolhia uma banana pra mim, eu percebi que no bananal tinham “troncos” de bananas cortados ao meio e quis saber por qual motivo e ele me explicou:


- Esta é a parte da história que eu mais gosto de contar Ana! Depois que o pé de banana produz os seus cachos e a gente colhe, nós podamos o pé. E, se você reparar bem, vai ver que a parte de cima que foi podada é aberta. Quando chove, a água da chuva penetra ali dentro, escorre por dentro do “tronco”, alcança as raízes e, assim, irriga a terra. Desta forma, o tronco podado é como um reservatório de água, uma pequena caixa d’água, entende? E isto ajuda a manter a terra úmida e os pés de banana bem irrigados em dias muito quentes ou períodos de pouca chuva.


Uau!! A natureza é mesmo incrível! Quando que eu iria imaginar isso? Eu adorei saber! Mas, eu ainda estava ansiosa para provar a banana e o Tio Heinz me ajudou a escolher uma.



Fonte: acervo pessoal



Quando dei a primeira mordida, fiquei assustada e perguntei:


- Tio, você colocou açúcar nesta banana por acaso? Ela está muito doce!


Com uma gargalhada, tio Heinz me respondeu:


- Aninha, você descobriu um dos motivos que está fazendo com que muitas pessoas queiram vir aqui conhecer a nossa região: a banana de Corupá foi eleita a mais doce do Brasil! E isto é o resultado de várias coisas como o lugar em que nós estamos, cheio de montanhas de mata atlântica, também devido ao tipo de solo, o clima e outros fatores. A natureza é uma maravilha, não é mesmo?


Eu tive que concordar, nunca havia comido uma banana tão doce! Até parecia que ela tinha mel! E assim, saboreando a banana, nos despedimos do tio Heinz e de sua família que nos presenteou com uma caixa cheinha de bananas para levarmos para casa.



Fonte: acervo pessoal



No caminho tive mais uma surpresa: mamãe me contou que nosso passeio ainda não havia acabado e que, agora, iríamos para a casa de alguém muito especial que descobriu como fazer artesanato com as fibras da banana. O nome dela é Elge, uma das artesãs mais antigas e conhecidas de Corupá.


Entramos em outra estrada de terra e dos dois lados da estrada muito verde, muita mata. Fomos subindo um morro e lá no alto, escondida entre árvores, flores e pés de banana, é claro, uma casa simples com uma varanda bem grande. Uma Senhora sorria e nos esperava na varanda, era a tia Elge.


Ao descer do carro um detalhe na varanda me chamou a atenção, me aproximei e fiquei olhando para tentar entender o que era. Tia Elge se apresentou e foi logo me explicando:


- Isto é o ninho de um pássaro e para fazê-lo, ele colhe as fibras da bananeira uma a uma, e o pendura aqui na minha varanda. Você gostou?


Eu amei! Fiquei pensando como é que aquele pássaro conseguia fazer aquilo. Deveria ser muito gostoso dormir ali, protegido naquele ninho comprido.



Fonte: acervo pessoal



Dentro da casa da tia Elge, no meio da sala, havia um tear e um montão de fios no chão. Cheguei perto para tocar e achei esquisito, bem diferente dos fios que eu costumava brincar em casa com meus alinhavos. Tia Elge me viu e, muito gentil, sentou do meu lado para me explicar:


- Menina, estes fios são diferentes não é mesmo? É porque eles não são de algodão, eles vêm da bananeira, na verdade são as fibras do seu tronco. Aqui, a gente tem quatro tipos de fibras e elas são diferentes umas das outras, consegue perceber? Deixe eu te mostrar...



Fonte: acervo pessoal





E eu fui percebendo que uma era mais grossa, outra mais fina, uma era mais macia e a outra mais grossa e áspera. Então a tia Elge me levou até o seu tear e me mostrou como ela usava aquelas fibras e eu achei muito legal!


Depois, ela me mostrou os seus trabalhos de arte: uma florzinha, uma esteira, um vasinho e até o cenário de um presépio que ela fez para a festa de natal da cidade. Tudo, tudinho usando as fibras da bananeira.


- Mamãe, ela é mesmo uma artista! – disse olhando admirada.


- Sim filha, e o mais legal é ver como é que a Tia Elge encontra a matéria-prima para a sua arte. – complementou minha mãe.


Fonte: acervo pessoal



Eu arregalei os olhos e pensei como isso seria possível!! E a Tia Elge, vendo meu entusiasmo, pediu se a gente gostaria de ver e é claro que eu aceitei na hora!


Andamos um pouquinho pelo quintal em direção há um galpão. A filha da tia Elge havia colhido umas camadas do tronco da bananeira e colocou sobre uma grande mesa. Usando uma faca, ela começou a deslizar a lâmina sobre um pedaço da bananeira como se quisesse separá-lo em dois pedaços e, uma a uma, as camadas apareciam e ela ia tirando, era fantástico! Nunca,nunquinha eu iria imaginar que do tronco da bananeira pudesse sair tanta coisa e que aquilo poderia servir para alguma coisa. Como ela conseguia fazer aquilo? Até parecia mágica!




Fonte: acervo pessoal




Voltamos para a casa da tia Elge e eu senti um cheirinho tão gostoso... ela havia assado um pão, que estava sobre a mesa nos esperando. Sentamos ali e fizemos um lanche bem gostoso.


Enquanto comia aquele pão macio e quentinho com uma geleia de banana deliciosa, fiquei pensando em tudo o que havia aprendido naquela tarde e do quanto era bom poder estar em família conhecendo pessoas e lugares tão diferentes. E, o melhor de tudo, tendo a oportunidade de fazer um passeio em uma cidade pertinho da nossa para provar a banana mais doce do Brasil e ver quantas coisas podem ser feitas com esta planta incrível!



Eu amei! E, no caminho de volta pra casa disse, em um volume bem alto:


- SIM MAMÃE! NÓS TEMOS BANANAS!!! E EU QUERO COMÊ-LAS TODOS OS DIAS!!!


- Sim Aninha!! E eu vou te contar mais um coisa: você sabia que a banana não é brasileira? Sim ela vem da Ásia, mais isso eu conto em outro momento para você... – disse mamãe dando uma piscadinha pra mim.


Curiosa, ficou pensando em tudo o que descobri. Seria possível ter mais para aprender? Quando eu iria imaginar que uma fruta me ensinaria tanto!


Depois desta viagem, nunca mais esqueci o que vi e o que descobri a respeito desta fruta que todos os dias estava na minha fruteira e que eu nem dava bola. Agora, todas as vezes que descascava uma banana eu lembrava de Corupá, do Tio Heinz e da dia Elge. E pensava que para que eu pudesse comer aquela fruta, pessoas muito legais haviam cuidado do seu pé para que ela pudesse existir, pessoas que eu tive a alegria de conhecer de pertinho.


Que tal você conhecer também? Tenho certeza que vai adorar viver uma aventura assim!



Um beijo carinhoso e até a próxima história!

Aninha.





Além de conhecer os atrativos naturais de Corupá, vale a pena visitar a loja Bananas Gostosas, pelo propósito de seu surgimento e, é claro, pelos produtos diferenciados. Pela cidade também há restaurantes que oferecem Buffet com pratos típicos inspirados na fruta e de um sabor incrível. E para quem deseja aproveitar o melhor da “queridinha” de Cidade, em agosto acontece a Festa da Banana, um festival cultural e gastronômico com o melhor da fruta em diferentes versões. Saindo do centro, estradas de terra levam para as terras dos principais bananicultores da região onde você poderá conhecer as histórias e as tradições das famílias responsáveis pelo sucesso da fruta. Seu Heinz pertence à linhagem de uma das famílias mais tradicionais da região. Em seus 8 hectares e meio destinados ao plantio de bananas dos tipos caturra e prata, cultiva cerca de 14 400 pés que lhe rendem uma produção média de 16 toneladas/mês da espécie que são vendidas para cidades do interior do Paraná e, também, para o Uruguai. A bananicultura de Corupá rendeu a ela o selo de banana mais doce do Brasil, e a região está em quarto lugar no ranking dos maiores produtores brasileiros. Roseli, uma das filhas de seu Heinz, esteve à frente de um projeto de Mapeamento histórico e cultural dos saberes e fazeres artísticos e culinários da banana de Corupá. Ela fundou o Museu da Banana e, atualmente, batalha por um espaço físico para ele na cidade. Por meio dela, conhecemos o trabalho de diferentes artesãs que, inspiradas na fruta, criam seus artesanatos como uma homenagem ao símbolo de sua cidade.



E se você quiser saber mais a respeito de outras histórias de Santa Catarina, visite um pouco mais do meu blog.














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